Claude
Royet-Journoud nasceu, em 1941, na cidade de Lyon, na França.
Vive em Paris há décadas. Trabalhou, durante trinta anos, numa
tetralogia poética que foi sendo lançada por partes: Le
Reversement (1972), La notion d'obstacle (1978), Les
objets contiennent l’infini (1983) e Les natures
indivisibles (1997), todas editados pela Gallimard. Organizou,
juntamente com Emmanuel Hocquard, duas importantes antologias de poesia
norte-americana: 21+1 poétes américains d’aujourd’hui (1996) e
49+1 noveaux poetes americains (1991). É também artista
plástico. Está traduzido para o inglês, o grego, o espanhol, o
dinamarquês, o italiano, o romeno, o galego, o sueco e o português, de
Portugal e do Brasil. Fiz, há algum tempo, algumas traduções de seus
poemas. Em Sibila n. 2 (2002), publiquei Naissance de la
Préposition, trabalho ainda não recolhido em livro, por ele, na
França, e por mim aqui. A seguir, nossa conversa, mantida, por e-mail,
em agosto e setembro deste ano. Uma "entrevista", com uma regra: as
respostas só poderiam ser dadas em uma só palavra.
Régis
Bonvicino
©claude royet-journoud
Você acha que a poesia é
hoje inútil?
Contrabanda!
Stéphane Mallarmé é um
poeta vivo?
Vívido.
A poesia feita para a
página do livro está superada?
Não.
Você acredita em poesia
sonora?
Às vezes.
Você acredita em poesia
eletrônica?
Às vezes.
Você ainda acredita em
Marcel Duchamp?
Aos pedaços...
Existem diferenças entre
prosa e poesia?
Sim.
Por que Mallarmé é um
poeta vivo?
Exatidão.
Você gosta de Corbière,
Laforgue e Verlaine?
Amarelo.
Matisse e Picasso estão
vivos?
Fredrikson1.
O que você entende por
poeta vivo?
Vivo.
Você aprecia
Dadá?
Tzara.
O que você pensa sobre o
Surrealismo?
Nada.
O que pensa de James
Joyce?
"Sim".
E do Finnegans Wake em
particular?
Stein.
Você acredita em
pós-modernidade?
Yoop!
Você gosta de Francis
Ponge?
Sílaba.
E de Ionesco?
Encrenca.
Beckett?
(Danielle)
Collobert.
O que acha de Sartre,
Deleuze, Lacan, Derrida etc. etc.?
Encore!
Você gosta de Edmond
Jabés?
Muitíssimo.
Apollinaire é um poeta
vivo?
(Louis)
Zukofsky.
Diga uma palavra para René
Char.
"résistant".
A língua portuguesa é
ininteligível?
Sensual.
Ela soa como se fosse
polonês?
Não.
Existe algum movimento de
vanguarda hoje em dia?
Brincadeira...
Existem bons críticos de
poesia hoje?
Escondidos.
Você acha que há mais
política literária do que crítica hoje?
Infelizmente.
Diga uma palavra para
crítica acadêmica.
Desastre.
Diga duas palavras para
Roland Barthes.
Luz/ Amor!
O que você detesta em
poesia?
Aliteração.
Qual é a capital mundial
da poesia?
Dicionário.
O que acha do dadaísmo
nova-iorquino?
1451232.
Você já leu Fernando
Pessoa?
Pouco.
Você conhece Carlos
Drummond de Andrade?
Sim.
É possível que alguém seja
hoje um novo Ezra Pound?
Por quê?
Por que você se declara
vazio?
(Sem)
dinheiro.
Você aprecia espaços
vazios?
Respiração.
Você ama as
palavras?
Entre.
Você gosta de
imagens?
Onde?
Anne-Marie
Albiach?
Ardentemente.
Você apoia Mr.
Bush?
Não.
O francês é uma língua
minoritária?
Óbvio.
É possível ser Rimbaud
hoje?
Ação!
Como você se sente no
Museu do Louvre?
Animado.
Você gosta de
museus?
(Da)
calçada.
Cite dez poetas franceses
contemporâneos?
Não.
Você acredita em Tristan
Tzara?
Aproximadamente3.
Você sabia que Blaise
Cendrars viveu um tempo em São Paulo?
Piratininga.
O que você pensa sobre o
trabalho de Blaise?
Admiração.
Diga uma palavra sobre
Brancusi?
Uma.
Matisse seria possível nos
EUA?
Não.
Você imagina uma pessoa
fazendo poesia com pipocas?
Alguma.
Você pensa que Baudelaire
é um poeta vivo?
(Pierre Jean)
Jouve.
Zidane ou
Ronaldo?
Ambos.
Uma loja ou um
supermercado?
Ambos.
Branco ou
preto?
Ambos.
O que você pensa sobre o
punk rock e sobre Sex Pistols?
Pop.
Você acredita em pop
art?
Sexo.
Você acredita em Andy
Wharol?
Manhã.
Você acredita em
Hollywood?
Tarde.
Você acredita em Jean-Luc
Godard?
Sim.
Você gosta de Charles
Aznavour?
Já!
Por que os poetas
americanos se parecem com executivos ou vendedores?
Mentira!
Você gosta dos
iraquianos?
Humano.
Você bebe
Coca-Cola?
Pepsi!
Diga uma palavra sobre
Salvador Dalí.
Outra...
Por que outra para
Dalí?
Despreocupado.
Diga uma palavra sobre o
poeta norte-americano George Oppen?
Luz4.
E para Man Ray?
Preocupado.
E para Miró?
Gratidão.
E para García
Lorca?
(Jack)
Spicer.
E para Picasso?
"Picassc"5.
Você acha que a
Language Poetry é uma diluição de Gertrude Stein?
Incisão.
Você pensa que a
Language Poetry é diluição da poesia concreta?
Não.
Diga uma
palavra para a poesia concreta.
"Oxigênio".
Alguém aqui
no Brasil disse que Tout Arrive de Dominique Fourcade é uma
cópia de Galáxias de Haroldo de Campos? É mesmo?
Errado.
Diga uma
palavra sobre Jacques Roubaud?
Essencial.
Diga uma palavra para
Jaspers Johns?
Aliteração.
Uma para Tarsila do
Amaral?
Léger.
Léger?
Amaral.
Você acha que os EUA estão
sob uma ditadura hoje?
(Ainda)
não.
Você acredita na
democracia?
Sim.
Diga uma palavra para
Borges?
Olho.
Diga uma palavra para
Breton?
Solidão.
Diga uma palavra para a
palavra.
Talvez.
Diga quatro palavras para
Joaquim Du Bellay.
"ce grand espace
vide".
O que você acha do
desconstrutivismo?
Fotogramas.
E sobre a
Bauhaus?
Klee.
Qual foi a última vez que
você leu Rimbaud?
Sexta-feira.
Quem merece duas
palavras?
pauloleminski.
Quem merece três
palavras?
Sintaxe.
Quem não merece nenhuma
palavra?
Silêncio.
(Publicado em Sibila — Revista de Poesia e Cultura. Ano
4, n. 7, setembro de 2004)
dezembro,
2005
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Régis Bonvicino. Poeta, ensaísta, tradutor e crítico literário, publicou
vários livros de poemas, de tradução e crítica. O mais recente,
de poesia, Remorso do Cosmos (de ter vindo ao sol) (São
Paulo: Ateliê Editorial, 2003), está traduzido para o chinês,
o dinamarquês, o catalão, o alemão, o espanhol, o francês e o inglês.
É co-editor da revista de poesia Sibila. Mais no seu site e na Germina.
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