Canastrice: assim como no caso dos atores, os canastrões da literatura são populares e ruins no seu métier. Muito numerosos para aparecerem neste Thesaurus, seria, por outro lado, uma injustiça escolher apenas um ou dois para representar classe tão paparicada. Basta folhear os cadernos de cultura dos jornais e marcar os nomes mais recorrentes. Cartas: meio charmoso, mas quase extinto de se corresponder; arruinam a reputação das pessoas; quem as escreve não tem mais o que fazer; é preciso estudar o modo correto de se compor uma carta; antigamente sim é que se sabia escrever uma bela carta. Castiço: é qualidade apenas em certa literatura e certas religiões; aparece também, em casos mais extremos, como eunuco. Castro Alves: o que o define é o seguinte: não foi um árcade nem um parnasiano porque nasceu quando a moda era o chamado "romantismo condoreiro"; poeta mui amado pela crítica; paradigma de poeta brasileiro. Celebridade: de celebritas [lt.], "multidão". Celebridade é o que é trivial, repetido, amontoado. Clássico: o que tem classe; velho e bom; Mozart; mobília escura, de imbúia; qualquer lugar em que apareça um violino; perucas brancas; algo que foi feito e aprovado há cinco anos; canal de cinema da década de 40; célebre (ver "Celebridade"); para mais informações, queira se dirigir ao livro de Italo Calvino, Por que ler os clássicos? Clichê: por estúpido que possa parecer, um anagrama explica bem o assunto. Considere o chiclé: é um negócio que se mastiga até perder o gosto e virar uma borracha dura, que a gente ainda mastiga pela inércia. O clichê artístico é a mesma coisa, e também acaba sendo cuspido (ver "Arte"). Colofon: aparato de informações técnicas sobre o livro, impressas no começo ou, mais comum, no fim dele, ou, ainda mais comum, não consta do livro. Conceitual: pessoas espertas perceberam, não faz muito tempo, que existe um nobilitante em toda abstração. Então, se um artista vem com um trabalho, digamos, uma vírgula do jargão filosófico, todos ficam boquiabertos, pasmados como se diante de uma verdade eterna; o artista conceitual é um sujeito de grandes idéias (ver "Mallarmé"). Concisão: "dizer muito em poucas palavras" é a definição corrente. Mas, é claro, está errada, já que essa também é uma definição de laconismo e os lacônicos, por isso, sempre passam por pessoas profundas. Vejamos: "dizer único em palavras únicas". Condoreirismo: 15% da obra poética de Victor Hugo; 90% da obra poética da mesma época. Cultura:
cultivo. Há um marxismo tolo que separa cultura de
massas, cultura popular e cultura erudita, porque é
simples e conveniente dizer que a cultura de massas é
para idiotas consumistas, que a cultura popular é digna,
boa e se está perdendo, e que a cultura erudita é
para estética e reflexão das coisas complicadas,
importantes. Muito mais difícil e inteligente é
descobrir que essas barreiras não estão sequer
borradas: elas simplesmente não existem.
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