Dânae: mãe de Perseu. Mulher magnífica e extravagante que jamais se contentaria apenas com um colar de ouro; antecedente de Marilyn Monroe e Madonna. Decadente: nobilitante. Todos queremos ser decadentes. O decadente é um cínico, um amoral, um desconfiado da civilização, que pode, por isso, desfrutar do que gosta e desprezar o que detesta. Grandes decadentes: Lúcifer, des Esseintes, de Charlus. Délfico: oracular; associado a Apolo. Depressão, deprimido(a): é assim que os escritores escrevem; não há livros bons e alegres; da ferida é que saem as obras: tudo isso deve ser dito com muita circunspecção, ao mesmo tempo admirando esses gênios e lamentando a situação deles. Des-: foi inventado, como a maior parte dos prefixos e sufixos, para participar de um poema concreto. Desconstrucionismo: o nome diz tudo, aliado ao rebarbativo apêndice de mais um ismo para a coleção do século XX; como toda criança, o seguidor desse método sabe quebrar um brinquedo, mas não sabe montar. Deus, o diabo: notório o fato de que deus é o diabo e vice-versa, o que torna aquele conto de Machado de Assis, "A Igreja do Diabo" ainda mais curioso, como também o prólogo no céu, do Fausto de Goethe. A figura do diabo é apenas uma derivação imprópria da figura de Pan, ou dos faunos e sátiros, com objetivo moralista bastante regressivo de atiçar medo existencial em crianças de todas as idades. O que existe é Lúcifer (ver Lúcifer), indivíduo hedonista e muito refinado (ver Decadente). Diluidor: a maior parte dos artistas. Grudam num jeito de fazer, por não possuírem nenhuma convicção específica, interesse ou engenho, e o fazem pior do que havia sido feito antes deles. Podem conhecer uma voga momentânea, mas desaparecem como se nunca tivessem existido. Dinheiro: um obstáculo entre o sujeito e o objeto; ficção que, como todas, manipula seu público. Dionisíaco: desbunde da esquerda no mundo antigo, segundo entende o pessoal do teatro. Ditirambos: alguns palpitam que seriam as origens da poesia lírica (ver Lírica). Como nem é possível definir o que seja a poesia lírica, deixemos isso de lado. Doutor: qualificação mínima para o mercado de trabalho brasileiro, especializado e de alto nível (ver mercado de trabalho). Drama, dramático(a): o drama deve ser coisa de burguês, já que a tragédia é coisa de nobre e a comédia, coisa de pobre (ou seja, o drama é o enfadonho meio-termo); dramático(a): qualidade impessoal do discurso, isto é, quando se usa uma voz que não é necessariamente a sua; diz-se de enchentes, jogos disputados, filmes que não se encaixam em nenhuma qualificação comercial, assim como "de arte", com o qual às vezes se confunde. Dualidade:
ou "o dual". Serve para dar títulos a teses
notáveis de muitas páginas: "A Dualidade
em Machado de Assis", "O Dual em O Mercador
de Veneza, de Shakespeare", etc; a dualidade de
Janus, deus bifronte; de Fausto, com seu lado mefistofélico;
de Iago, quando disse: "I am not what I am", etc.
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