Famoso:
famoso é quem, não tendo qualidades salientes,
e tendo a boa-sorte de ainda assim se fazer notório,
vive de algo que não tem substância
(mas que magicamente a concede), a fama; analogamente, tome-se
o exemplo do investidor da Bolsa: também ele vive de
algo que não tem substância (mas que igualmente
provê bem), a especulação financeira,
e não da produção.
Fantasia:
traje do carnaval veneziano. Aqui é chamada "adereço",
ou "alegoria"; quanto à arte, você
deve dizer em ambientes cultos que algo fantástico
é sempre ruim, coisa de mentalidade ainda infantil,
que os críticos de arte adulta, séria e culta
— sendo eles também adultos, sérios e
cultos —, não podem mesmo admitir; sempre falta
um pouco de cotidiano real à fantasia, ou "realidade"
(ver Realidade), etc.
Farsa: a farsa já foi uma espécie
de gênero menor do teatro; pela atual semelhança
com a vida da maior parte das pessoas, se tornou algo mais
complexo de se definir.
Fel: rima com mel.
Férias: férias são um
período de descanso para quem trabalha. Os artistas,
é evidente, nunca têm férias.
Fescenino: você encontrará,
como explicação nos dicionários comuns,
"verso licencioso", geralmente seguido de "na
antiga Roma". Por licencioso querem dizer que as coisas
aparecem como elas são, sem o delicado e vaporoso atenuante
da "fantasia poética".
Fetichista: aquele que transforma o desejo
numa obrigação.
Fiat lux: a primeira indiscrição
divina; a segunda resultou no banimento de dois indivíduos
do Éden.
Ficção: a origem latina do
termo fica entre chamar a isso "mentira" ou simplesmente
aquilo que "é feito". Como aquilo que "é
feito" de certa forma "representa", já
quase deslizamos para a admissão da onipresente abrangência
da mentira, em que tudo à sua volta se tornaria, portanto,
ficção (ver Reductio ad Absurdum).
Fidelidade: o que alguns tipos de cães
têm aos seus donos; em tradução, dizem
alguns, a melhor maneira de ser fiel é ser infiel,
o que, no entanto, me parece uma tirada do esprit francês,
cheio de velhacarias, como as belles infidèles; fidelidade
é sempre uma ficção (ver Ficção)
mais ou menos crível, e, como toda ficção,
coisa de extrema importância.
Flip: flop.
Fonte: existe a da inspiração
poética, a da Castália; existem também
os jogos de fontes dos impressores, alguns famosos, como Elzevir
ou Garamond; existe a fonte de Duchamp (ou R. Mutt), que era
um urinol, obviamente ao contrário; existem também
as fontes de um trabalho crítico, sob o pressuposto
até razoável de que ninguém nasceu sabendo
— é certo, por outro lado, que isso gerou um
monte de papagaios.
Frívolo: charmosa e afetada maneira
de se dizer que alguém é superficial.
Fundo e forma: papo teórico. Qualquer
artista sabe que isso não passa de um problema apenas
para aqueles incapazes de conceber obra própria que
valha alguma coisa. Borges perdeu algum tempo tentando mostrar
que uma coisa não existe sem a outra, mas não
teve muito sucesso. Afinal, há muitos congressos que
dependem desse tipo de conversa.
Futurista:
maneira antecipada de se ser passadista.
chamaeleonte@yahoo.com