Palavra: quem disse a primeira palavra foi Eva, que abocanhou o fruto proibido da Árvore do Saber. Não há registro do que ela disse, o que leva especuladores a supor que tenha sido alguma coisa bem obscena.
Parcial: aquele que diz algo acaba de escolher um lado. Imparcialidade é apenas uma palavra tolerante e sinuosa, usada com extrema generosidade quando se fala de jornalismo.
Pastiche: negócio feito para ser um grude de segunda categoria numa dada obra. Com o pós- modernismo (Ver pós-modernismo), foi elevado ao nível de ousadia de vanguarda.
Patético: [gr. pathos, emoção]; patético significa tão tomado de emoção que chega a ser ridículo, ou simplesmente embaraçoso.
Patriota: alguém que, adulto, permanece utilizando os mapinhas do ginásio em que os países aparecem pintados cada um de uma cor.
Paulicéia desvairada: nome científico do poema mal-escrito que tem origem em São Paulo.
Pensamento: mecanismo ativado por corrente elétrica, glicose e mais algumas coisas, que passa por uma ponte entre neurônios (células cerebrais) chamada dendrito, até o axônio. Quando bem logrado, recebe o mimo de uma lâmpada acesa no topo da cabeça — significando uma idéia —, como vemos nos desenhos animados.
Pitoresco: antigamente, o gosto mediano apreciava o chamado pitoresco, isto é, algo que vem de fora de sua vida em lata e não a modifica, podendo ser consumido sem distúrbios.
Pobre: no caso da rima, é a que pede esmolas para todos os outros poemas; rima rica é aquela que, tola e vulgar, coleciona tudo o que é caro; já as esdrúxulas são exatamente o que diz o nome, e se vestem de cores espalhafatosas sem ligar para a opinião de ninguém.
Poesia: de poiésis, do grego, a idéia indefinida de um fazer; baba sentimental que a maior parte das pessoas costuma dizer de qualquer coisa lambida: "ai, que poético"; poesia querendo dizer poema: "o Vinícius tem umas poesias lindas"; pode ser também, e nos últimos anos tem sido assim, umas palavras semeadas quase ao acaso no papel, com algum obtuso esforço de metalinguagem.
Poeta: uma séria ofensa, evite chamar alguém disso.
Poetinha: esse era mesmo o Vinícius de Moraes, alcunhado no lance de sagacidade de algum refinado.
Política: política é a fofoca daqueles homens de meia-idade que começam a se cansar da vida.
Polissemia: afecção que se abate sobre poetas que não sabem ao certo o que querem dizer; quando um crítico lhe disser que um texto é polissêmico, significa que não pode ser compreendido. Ou ao menos não sem a ajuda dele.
Pós-modernismo: declarada falta de imaginação da crítica que, tomada de muita preguiça, resolveu pôr um pós na frente de qualquer coisa para ter um nome que gere simpósios e cursos universitários, com diplomas e distinções para todos os envolvidos.
Povo: coletivo ficcional e abstrativo de indivíduo.
Público: aparece normalmente em grupo dentro de algum tipo de cercado & tem uma expressão bovina, alimentando-se do que lhe derem.
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março, 2006