Vândalos: povo antigo que leva a culpa por todos os atos de estupidez contra o patrimônio público no mundo, até os dias de hoje.

 

Valor: palavra em desuso, pois como não se quer discutir o assunto em literatura, supomos que todos que se metem a escrever têm valor, o que é o mesmo de dizer que ninguém tem.

 

Veneno: o ingrediente indispensável à culinária de peças como "Hamlet".

 

Verdade: é verdade que a Estética de Hegel é pela verdade, mas é mentira que a arte seja feita de verdade, & é verdade o que estou dizendo, embora eu seja normalmente um mentiroso.

 

Verso: a parte de trás de alguma coisa; buracos abertos na terra pela charrua; contra, ou seja, quem escreve verso é naturalmente do contra; o verso está morto; longa vida ao verso.

 

Vertente: como os movimentos ou as tendências literárias têm um escritor que presta e um bando de cordeiros que o seguem, a palavra vertente (de verter, ou despejar em jato) descreve o movimento do básico maria-vai-com-as-outras.

 

Verter: traduzir. A metáfora do líquido que é vertido de um vasilhame em outro.

 

Vício: chamo assim a tudo o que invejo no outro, mas não posso admitir; mania, e por isso a coisa é censurável, já que demonstra que a pessoa viciada não tem controle sobre si.

 

Viés: em corte & costura, o cortar de atravessado; também faz parte do hocus-pocus da crítica literária, pois qualquer ponto-de-vista deve ser chamado de viés, veja só um exemplo: "Esse viés que você adotou para a leitura do corpus cabralino é muito instigante".

 

Vilão: o habitante de uma vila; como os camponeses eram desprezados e repugnados pelos nobres, habitantes de cidades, "vilão" se tornou o nome dos safados que roubam os outros, ou que cometem atos censuráveis socialmente.

 

Voga: vogar é o poético para velejar; o que está em voga, portanto, está de vento em popa.

 

Vontade: não é possível definir o termo sem amplo debate filosófico: vontade seria algo condicionado ("essa propaganda me deu uma vontade de comer umas fritas"), espontâneo ("não sei, tenho uma vontade inexplicável"), ou calculado ("se a pessoa tem força de vontade, consegue")?

 

Voz: diz-se de quem fala num poema, pois sabemos que os poetas sofrem de ventriloquismo, dupla personalidade (ou mais, tome-se o Fernando Pessoa, por exemplo) e crises de identidade freqüentes.

 

Vulgo: o vulgus, refeição dos legionários romanos, era uma coisa pra lá de ordinária. Daí se depreende o sentido que hoje se dá ao termo.

 

Vulto: todos os escritores importantes estão mortos; todos os mortos são sombras; toda sombra é um vulto; todos os escritores importantes são vultos.

 

setembro, 2007