Dos ipês

 

De um amarelo

Impositivo

Flutuante

 

(câmbio, desligo)

 

As garrafas de fanta

Parecem tão laranja

(ali)

 

A escada

Tem muitos

(degraus)

 

Prego

Cada uma

(a seu tempo)

 

 

 

 

 

Reticências

 

vou escrever qualquer coisa

que não pareça

nada

(!)

 

esse tudo

é mesmo

o que

(devasta)

 

 

 

 

 

Coração estranho

 

Um coração estranho

E uma alma

Torta

 

Um coração

Estranho

E uma alma

Torta

 

Olha pra mim

Vê o que vês

Olha (!)

É só uma

Alma torta

 

Do que tens medo

Medo de quê

Sou só mais uma alma

Torta

 
 
 
 

Katauê

 

O miolo dentro da casca

(pão)

 

O miolo dentro

(da casca)

 

A casca virando

 

O miolo

O miolo

Miolo

 

Poderia

Correr

Sem

Léguas

(cem)

 

 

Um colar de castanha elétrica

Uma flor amarela

Muru

 

(estou tão acremente despida hoje que o açaí perdeu a cor)

 

 

 

 

 

Poema risonho

 

Fui olhar

O rio

(Eráclito!)

 

Tem uma

Alcachofra

Correndo

 

(os poemas andam tão malucos)

 

Fui olhar

O rio

 

(estava ventando)

 

Alcachofras

São flores

 

Rios

Secam

(!)

 

O que

É

Um

Poema

Senão

Uma

Imitação

Da gente

(?)

 

 

 

 

 

Correntezas

 

a menina tem mania de olho

e janelas

olha por elas

(as janelas)

desce

e vai

 

a menina olha a janela

cansa-se dela

e vai

 
 
 

 

 

Aniversários

 

Sempre fico assim

Nesse dia

Pequena

E sentimental

 

Fico procurando

Os cacos

Pro mosaico

Da parede

 

Impressionante

Como são coloridos

Esses mosaicos

De parede

 

Pedaço

Por

Pedaço

 

Vermelho

Depois

Uma alma

Branca

Despida

 

E quase

Sempre

Aparece

Um amarelo

De girassol

(na janela)

 

 

 

 

 

 

Do teto

 

Escritor é um bicho chato

E sem graça

Penso !

 

Poetisas mais parecem

Mulheres feitas

De açúcar

 

Não sou nada disso

(!)

 

Sou mesmo

Um celular

Que desperta

Nas horas impróprias

 

Sou um

Murro na cara

Sou feia

De dar dó

 

Não boto minha

Foto

Pra não assustar o leitor

 

Por

que

Aos leitores já bastam

Os escritores chatos e as mulheres de açúcar

(!)

 

 

 

 

 

Filmografia

 

Desse lado do mundo

Dessas coisas que penso

Que paro

E penso

 

Tenho uma vontade de gritar

E grito

Grito

(!)

 

A janela está escancarada

Aberta

Exposta

 

As cortinas balançam

O vento

O vento

 

Não há ninguém na rua

Ninguém na lua

Só coisa comum

 

Desse lado do mundo

As coisas

Coisas

Só coisas

Se mudam

Mudam

Muda

 

...silêncio
 
 
 
 
 
(imagem ©ozlemarc)
 
 
 
 
 
 
Walquíria Raizer. Amazônica, escritora, poeta. Graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Acre e especializou-se em Jornalismo Político pelo Centro Educacional Uninorte. Devido ao engajamento pessoal com as manifestações culturais, tem o histórico profissional voltado para a política cultural. Publica seus textos em diversos sites amazônicos. Defende a poesia como matéria-prima de todas as artes. Escreve no Desterro21 e no Um Caso Poético.