Quadros instigantes, expressivos e originais renovam o espírito e a devoção da residência de um casal, referência no Brasil. Sem falar das esculturas, desenhos, fotografias e objetos, verdadeiros patrimônios culturais, das mais variadas épocas. O grande diferencial da coleção está no recorte e diálogos feitos com a modernidade. Principalmente, a brasileira. Delcir da Costa é psiquiatra e fascinado pelo comportamento e criatividade do ser humano. Regina da Costa, sua esposa, além do incentivo, há décadas, ajuda na manutenção, limpeza e armazenamento de várias obras. O casal mineiro, de Belo Horizonte, valoriza não somente a arte, também os artistas, pois prestigiam o contato e conhecimento de técnicas e linguagens empregadas. É claro, sem antes, ter conhecimentos sólidos sobre estética e História da Arte, uma outra paixão antiga, que ilumina a curiosidade, atmosfera e os contextos expansivos de uma seleção rigorosa. Sinal de uma sofisticada sensibilidade, ao transpor as fronteiras dos modismos ou afetações advindas da decoração. Pluralidade estética configura a singular combinação de estudos e maneiras diferenciadas de observar, refletir, compreender e levar adiante a intuição, paixão e o desejo, que alimentam um acervo com mais de três mil peças. Ele sempre adquire através de marchands, galerias, leilões e dos próprios artistas em várias cidades do Brasil e exterior. Além das visitas às diversas feiras ao redor do mundo. Vale ver algumas obras (no exemplar temos imagens de mais de 150 trabalhos) e prestar atenção nas palavras francas e objetivas de Delcir da Costa, logo abaixo, reproduzidas de uma extensa entrevista contida no livro Circuito Colecionador: Regina e Delcir da Costa (Belo Horizonte: Editora C/Arte, 2009), um dos grandes lançamentos do ano na literatura em artes plásticas.

 

 

Ismael Nery, S/Título, Nanquim S/Papel, 26 x 13 cm, 1931

 

 

"Existem várias razões para colecionar arte. Elas variam do simples prazer à voracidade. (...) No nosso caso colecionamos arte simplesmente como um estilo de vida. Regina e eu nos conhecemos já com um espírito de colecionadores. Desde 1970 nossas vidas são dedicadas a colecionar arte, isto é, procurar outras maneiras de ver o mundo. O ato de colecionar não é apenas para milionários e os verdadeiros colecionadores realizam mais pelo ato de colecionar do que pela urgência de acumular. Colecionar arte pode ser uma aventura perigosa, aqueles que começam possuindo frequentemente tornam-se possuídos. É uma paixão e este é o mistério. As verdadeiras coleções refletem o pensamento pessoal do colecionador. Através de nossa coleção nós desvelamos e revelamos nosso passado. A intenção é mostrar e estimular aos outros o amor à arte".

 

 

Alfredo Ceschiatti, Yoga, Escultura de Bronze, 150 x 40 x 34 cm, 1950

 

 

"Muitas pessoas já quiseram interferir na minha coleção, mas eu não permito. Nunca entra na minha cabeça comprar coisa que não me diz respeito. Eu sei o que quero levar. Quando entro em uma galeria eu já vou procurando. Então é desnecessário focarem me mostrando várias obras. Nunca aconteceu isso! Mesmo no começo. Eu queria comprar Bracher, comprava. Nello Nuno, comprava. Inimá, comprava. Sara, comprava. Maria Helena, comprava. Eu sempre apostei no meu olho".