©regina lustosa | leonardo fróes aos 55 anos
 
 
 
 
 
 
 

 

Seus livros mais recentes, e ainda à venda, são todos publicados pela Editora Rocco. A primeira publicação pela Rocco aconteceu em 1990, a biografia do também poeta Luiz Nicolau Fagundes Varella, Um outro. Varella. A mais recente é o livro de poesia, lançado em dezembro de 2005, Chinês com Sono | Clones do Inglês, "um livro de face dupla", como diz o autor.

 

 

 

 

Chinês com sono

Leonardo Fróes 

Rio de Janeiro: Rocco, 2005

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Contos orientais

Leonardo Fróes 

Rio de Janeiro: Rocco, 2003

 

 

 

 

Vertigens

obra reunida, 1968-1998,

incluindo o livro inédito

Quatorze Quadros Redondos 

Leonardo Fróes 

Rio de Janeiro: Rocco, 1998

 

 

 

 

 

 

Argumentos invisíveis

Leonardo Fróes 

Rio de Janeiro: Rocco, 1995

Jabuti de Poesia-1996

 

 

 

 

Um outro. Varella

Leonardo Fróes 

Rio de Janeiro: Rocco, 1990

 

 

 

 

 

 

"Fróes não se limita a traduzir. Pertence aos tradutores que exercem o ofício com conhecimento de causa". Donaldo Shüller

 

"Como estamos falando da tradução, é preciso que os leitores saibam que irão encontrar nessa obra [Contos Completos, de Virginia Woolf. S. Paulo: Cosac Naif, 2005] um digno respeito do tradutor pelas qualidades mais recônditas e sublimadas da prosa virginiana. E, se conhecem os contos em inglês, irão se comprazer com a perícia com que Leonardo Fróes conseguiu, numa verdadeira tradução integral, reproduzir em português essa dicção personalíssima". Ivo Barroso

 

"A tradução me deixa a idéia de uma representação teatral. Cada autor que traduzo me obriga a encarnar um novo personagem, a inventar um novo estilo, e, se for o caso, a usar palavras que às vezes soam preciosas para o poeta que eu sou, ou penso ser. Mas se essas palavras estão no original, na partitura que executo, não tenho como fugir delas". Leonardo Fróes

 

 

 

 

 

Realmente não sei responder isso, se o que faço como tradutor de poesia repercute ou não no que eu escrevo. Para mim, é como se tudo fosse uma coisa só, escrever ou reescrever, no fundo, tanto faz. Noto é que me volto muito para poetas de antigamente, de eras bem recuadas. É como se eu estivesse atrás de antecedentes, de pessoas que viveram coisas parecidas com as que eu vivo hoje em dia. Gosto de traduzir do inglês pelas dificuldades que essa língua coloca nas formas fixas, já que suas palavras são em geral muito menores que as nossas. Quanto maior a dificuldade, maior é o prazer de resolver um problema. Mas tenho a mesma ligação com a poesia francesa ou alemã, em especial do Romantismo alemão, e também gosto dos latinos, como Juvenal ou Horácio. Bem que eu gostaria de traduzir ainda muitos poemas de outras línguas. Algum dia, quem sabe, se o tempo der e a cabeça ajudar...

 

 

Leonardo Fróes

A Vida Inclassificável. Germina, março de 2006

 

 

 

 

Como tradutor, tem um extenso currículo. São dezenas de textos de autores estrangeiros traduzidos.

 

 

 

 

 

Eu sou obsessivo, completamente obsessivo. Quando eu entro na obra de um autor para traduzi-lo, como entrei em Swift, George Elliot, ou em Faulkner, quero saber tudo sobre o autor, ler todos os livros, sua biografia, cada detalhe de sua vida, de seus contemporâneos, suas ligações com o tempo. E eles viram mais um amigo para a minha coleção. Sartre tem uma frase que acho muito bonita, "mudei no interior da minha permanência". Há um dado básico da sua mônada que continua contigo. Você vai variando de personagens, todas as experiências são muito ricas.

 

 

Leonardo Fróes

A Fábula da Cebola. Revista Azougue, n. 8, 2003

 

 

 

 

 

 

O poeta de "Queen Mab" (que escreveu aos 18 anos), "Alastor, "Adonis", "Ode to liberty" e outros, teve vertido para o português o longo e derradeiro poema "O triunfo da Vida", a cargo da reconhecida competência do poeta Leonardo Fróes, que também  assina o excelente e minucioso ensaio "Os Embates de Shelley pela artes da vida" e que já traduzira, para  a mesma coleção Avis Rara da Rocco, a Trilogia da Paixão, de Goethe.

 

Frederico Gomes

Poeta, autor de Outono e Inferno (Rio de Janeiro: Topbooks, 2002)

O triunfo de Shelley. O Globo|Caderno Prosa & Verso, 09.06.2001

 

 

A tradução de Leonardo Fróes impressiona bem desde o primeiro verso: "Qual presto espírito lançado à lida" ("Swift as a spirit hastening  to his task"). Na tradução, os sons sibilantes do original, misturados aos "rr" e "ll", atingem um belo efeito musical.

 

A tradução de Fróes merece apreço pela sonoridade, pelo ritmo, pela fluência. Ao lado dos versos em inglês, nasce um novo Shelley que  fala o nosso idioma. Fróes acerta quando recria Shelley com recursos vocabulares de românticos nossos.  

 

Mas Fróes não se limita a traduzir. Pertence aos tradutores que exercem o ofício com conhecimento de causa. Insere os tercetos de Shelley  na história lírico-épica  encabeçada por Dante e Petrarca e vem até a vanguarda. A visão é ampla, bem informada e pertinente (...)

 

James Joyce navegou por essas águas. O Triunfo da Vida, verso 200: "Que te amei, temi, odiei, sofri, morri" ("I feared, loved, hated, suffered, did and died"). Finnegans Wake, 18, 21: "Chegaram, amaram, pariram, partiram ("They lived and laughed and loved and left"). O romantismo sobrevive na vanguarda. A tradução de Leonardo Fróes alimenta nossas reflexões.

 

 

Donaldo Shüller

Professor, ficcionista, ensaísta e tradutor de Finnegans Wake, de James Joyce, 5 volumes

(São Paulo: Ateliê, 1999 a 2003)

Um Cortejo de Almas. Folha de S. Paulo|Caderno Mais, 05.08.2001

 

 

 

 

 

Entre tantos, destacamos: Um parque de diversões da cabeça, de Lawrence Ferlinguetti, co-tradução com Eduardo Bueno (Porto Alegre: L&PM, 1984); Poemas de D. H. Lawrence (Rio de Janeiro: Alhambra, 1985); À sombra do vulcão, Malcolm Lowry (São Paulo: Siciliano, 1992); O Casamento e outros contos, de Rabindranath Tagore (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992), além dos que seguem.

 

 

 

 

 

Contos completos

Virginia Woolf

 

Tradução

Leonardo Fróes

 

São Paulo: CosacNaify,

2005

 

 

 

Esquetes de Nova  Orleans

William Faulkner

 

Tradução

Leonardo Fróes

 

Rio de Janeiro: José Olympio, 2002

 

 

 

O triunfo da vida

Percy Bysshe Shelley

 

Tradução e Ensaio

Leonardo Fróes

 

Rio de Janeiro: Rocco

2001

 

 

Trilogia da paixão

Goethe

 

Tradução e   Ensaio

Leonardo Fróes

 

Rio de Janeiro: Rocco,  1999

 

 

 

 

 

 

Presença raríssima nas livrarias brasileiras, mesmo nas estantes de importados, não traduzido com a obrigatória regularidade, absurdamente não-incluído nos currículos das universidades, Faulkner só encontra guarida aqui, por exemplo, na admiração e estudo permanente do poeta, tradutor e ensaísta Leonardo Fróes (seu melhor tradutor e autor de um instigante ensaio revelando "afinidades literárias e filosóficas" entre Faulkner e Fagundes Varela). [...]


Como nem tudo está perdido, a editora Mandarim também publicou no ano passado "Enquanto agonizo" e agora a José Olympio, hoje selo da Record, acaba de lançar "Esquetes de Nova Orleans", coletânea de 17 contos que Faulkner publicou em meados dos anos 20 exatamente quando juntou-se ao grupo literário de Sherwood Anderson em Nova Orleans e aí — momento marcante para a arte e a cultura do mundo — decidiu definitivamente que seria um escritor profissional (antes, escrevia matérias e artigos em jornais e revistas de reduzida circulação): a tradução, claro, é de Leonardo Fróes.


 Mauro Rosso

Professor de Literatura, escritor,  jornalista, consultor editorial.

Autor de São Paulo 450 anos: a cidade literária (S. Paulo: Expressão e Cultura, 2004).

Por ocasião do lançamento do livro, em 2001

 

 

 

 

 

 

 

 

Panfletos Satíricos

Jonathan Swift

 

Tradução

Leonardo Fróes

 

Rio de janeiro: Topbooks 

1999

 

 

 

Middlemarch

George Eliot

 

Tradução

Leonardo Fróes

 

Rio de Janeiro: Record,

1998

 

Prêmio Paulo Rónai de Tradução-1998

 

 

 

O Intruso

William Faulkner

 

Tradução

Leonardo Fróes

 

São Paulo: ARX/Siciliano,

1995

 

 

 

 

 

 

 

[...] O leitor brasileiro positivamente não tem medo de Virginia Woolf, apesar de sua leitura inusitada: todos os seus romances já foram lidos em português em traduções assinadas por escritores da excelência de um Mario Quintana, Cecília Meireles e Lya Luft, e certamente sabe tudo a respeito da vida da autora, já que foram publicadas no Brasil nada menos que três de suas biografias (Quentin Bell, John Leeman e Monique Nathan). Além disso, vários de seus contos, ensaios, diários e fragmentos biográficos constam da relação de seus livros editados no Brasil. Faltavam os contos em sua completude — e ei-los aqui na magnífica tradução de Leonardo Fróes, que acrescentamos sem favor a esse trio de tradutores que o precedeu na prestidigitação de trazer ao leitor brasileiro o lusco-fusco, as intermitências e duplicidades dessa que é sem dúvida uma das maiores autoras da língua inglesa. [...]

 

Como estamos falando da tradução, é preciso que os leitores saibam que irão encontrar nessa obra um digno respeito do tradutor pelas qualidades mais recônditas e sublimadas da prosa virginiana. E, se conhecem os contos em inglês, irão se comprazer com a perícia com que Leonardo Fróes conseguiu, numa verdadeira tradução integral, reproduzir em português essa dicção personalíssima. Vejam só:

 

"The pointed fingers of glass hang downwards. The light slides down the glass, and drops a pool of green. All day long the ten fingers of the lustre drop green upon the marble. The feathers of parakeets — their harsh cries — sharp blades of palm trees — green, too; green needles glittering in the sun. But the hard glass drips on the marble; the pools hover above the desert sand; the camels lurch through them; the pools settle on the marble; rushes edge them; weeds clog them; here and there a white blossom; the frog flops over; at night the stars are set there unbroken. Evening comes, and the shadow sweeps the green over the mantelpiece; the ruffled surface of ocean. No ships come; the aimless waves sway beneath the empty sky. It's night; the needles drip blots of blue. The green's out. (Blue & Green).

 

Os dedos de vidro pendurados apontam para baixo. A luz, ao deslizar pelo vidro, derrama uma poça verde. O dia inteiro os dez dedos do lustre derramam verde no mármore. As penas dos periquitos — seus gritos dissonantes — cortantes lâminas de palmeiras — verdes também; verdes agulhas reluzindo no sol. Mas não pára o duro vidro de gotejar sobre o mármore; sobre a areia do deserto as poças ficam suspensas; por elas cambaleiam camelos; as poças se assentam no mármore; juncos as margeiam; e ervas se grudam nelas; aqui e ali uma flor branca; o sapo salta por cima; de noite as estrelas são afixadas intactas. Aproxima-se a noite, e o verde, varrido pela sombra, vai para cima da lareira; a superfície enrugada do oceano. Não há navios chegando; as ondas a esmo balançam sob o céu vazio. A noite avança; das agulhas agora pingam traços de azul. O verde ficou de fora. (Azul e Verde).

 

Uma festa para os olhos e o espírito.

 

Ivo  Barroso

Poeta, ensaísta e tradutor.

Prêmio Jabuti de Tradução, 1998 — Prosa Poética: Uma  Estadia no Inferno, de Rimbaud

(Rio de Janeiro: Topbooks, 1997); Prêmio da ABL de Tradução, 2005 — Teatro Completo,

de T. S. Eliot, em 2005 (São Paulo: ARX, 2005).

Sem Medo de Virginia Woolf. O Estado de S.Paulo| Caderno 2, 05.06.2005

(texto na íntegra em Germina)

 

 

 

 

 

Logo poderemos incluir, nessa lista, uma outra tradução, inédita, já na editora Cosac Naif, de O africano, do romancista francês J.M.G. Le Clézio.

 

Quanto à questão, freqüente e generalizada, do silêncio da crítica  em relação ao "texto do tradutor", isto é,  o trabalho de tradução não receber a devida avaliação, por parte dos resenhistas, em forte contraste com  a atenção  dada ao "texto do autor", aquele que foi traduzido para o novo idioma (isso, quando não acontece da referência ao tradutor resumir-se apenas a um dado: o nome do tradutor é mencionado, assim como o da editora, apenas como parte do ''serviço" do livro),  ocorrência  que, por sinal, frustra a expectativa de leitores,  Leonardo Fróes, pessoalmente, não se queixa. Antes, sente-se prestigiado, em face da  atenção que grandes tradutores têm dado às suas traduções: "já escreveram detidamente sobre trabalhos meus. E essa é uma das muitas razões pelas quais eu, pessoalmente, não me sinto vítima de um silêncio da crítica". 

 

 

 

 

A avaliação crítica de uma tradução requer um nível de conhecimento e prática que não é nada comum. É relativamente fácil apontar um erro de português, um cochilo de edição, e por causa disso despertar interesse. Mas é muito difícil mergulhar de modo compreensivo no trabalho de um tradutor. As resenhas, em geral, são feitas às pressas, no ritmo do jornalismo, e apenas sobre os textos em português. É muito raro, embora às vezes aconteça, que um resenhista faça um cotejo entre o livro traduzido e o original. Mas esse é o melhor caminho.[...]

 

É, deveria ser assim. Os grandes tradutores, como Donaldo Shüller, Ivo Barroso, Ivan Junqueira, não costumam proceder desse modo quando escrevem resenhas? Todos três, aliás, já escreveram detidamente sobre trabalhos meus. E essa é uma das muitas razões pelas quais eu, pessoalmente, não me sinto vítima de um silêncio da crítica. Pelo contrário, tenho sido tão elogiado que às vezes até me envergonho um pouco.

 

Leonardo Fróes

Germina, março, 2006

 

 

 

 

Do mesmo modo, pessoalmente, não  se queixa do reconhecimento financeiro.

 

 

 

 

 

É um trabalho que exige muito, que nem sempre é reconhecido publicamente, nem  financeiramente. Não é o meu caso, não tenho o que reclamar. Hoje, depois de 40 anos de banca, eu já recebo pagamentos melhores que  a maioria dos meus colegas. Agora, os tradutores que se iniciam  recebem, muitas vezes, pagamentos vis,  aviltantes.

 

 

Leonardo Fróes

 Programa  Livros na Mesa, exibido em fevereiro de 2006

 

 

 

 

Mas as searas pelas quais Leonardo transita são várias, além da Literatura. Assim, entre as suas traduções, há livros de especialistas em ciências da natureza, como o ornitólogo Helmut Sick, Tukaní, Entre os animais e os índios do Brasil Central (Rio de Janeiro: Marigo, 1977), e o mirmecólogo Edward O. Wilson, Naturalista (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977), e também os chamados textos místicos, como  o recém–lançado (no fim do ano passado) Os místicos Cistercienses do século XII (Juiz de Fora-MG: Edições Subiaco, 2005) —  organizado por Dom Bernardo Bonowitz, abade do Mosteiro Nossa Senhora do Novo Mundo, em Campo do Tenente, Paraná —  que inclui textos, traduzidos do latim, de Bernardo de Claraval, Guilherme de Saint-Thierry, Elredo de Rievaulx, Guerrico de Igny, Isaac de Estrela e Balduíno de Ford, e a sua mais recente tradução, também do latim e ainda inédita, de um volume das Conferências de João Cassiano, autor cristão do século V  — encomenda do Mosteiro da Santa Cruz, de Juiz de Fora, a sair também por Edições Subiaco. Cassiano entrevistou os padres do deserto, e suas conferências são o resumo dessas andanças pelos areais do Egito, onde os solitários contemplativos se refugiavam. "Muito interessante", diz o Leonardo.

 

 

 

 

 

Li e leio com o maior interesse os autores ditos místicos das mais diversas tradições e épocas, de Kabir a São Bernardo, de Rumi a Gurdjieff, de Ibn Arabi ou Avicena ao Eclesiastes ou Hildegard de Bingen. Sempre acho, nesses e em dezenas de outros, alguma coisa que me fala de perto.

Leonardo Fróes

A Vida Inclassificável. Germina, março de 2006

 

 

 

 

A excelência de seu trabalho lhe valeu prêmios como o  Jabuti de Poesia, em 1996, com Argumentos invisíveis (Rio de Janeiro: Rocco, 1995), e o Paulo Rónai de Tradução, em 1998, com a tradução Middlemarch, de George Eliot (Rio de Janeiro: Record, 1998).

 

 

 

 

 

Será que me tornaram mais seguro, mais confiante no valor do meu trabalho? Não sei, sinceramente não sei. Sei é que no plano concreto, como levo uma vida muito modesta, o dinheiro dos prêmios foi uma boa ajuda para eu pagar minhas contas. Essa vida, no mais, não se alterou em nada.

 

Prêmio é um estímulo, um presente que a vida manda. Mas não convém trabalhar pensando em prêmios. Não convém, em nenhuma circunstância, agir pensando em eventuais recompensas. Convém é pensar que trabalhar com prazer, num país onde há tanto desemprego, tanta insatisfação, tanta miséria em torno, já é, em si, um grande prêmio. Todo o resto são meras conseqüências.

 

Leonardo Fróes

Germina, março de 2006

 

 

 

 

 

Além de poeta, tradutor e ensaísta, Leonardo Fróes é colaborador de jornais e periódicos científicos.

 

 

Corramos

 

"Entrem nas livrarias e exijam um dos melhores poetas brasileiros contemporâneos Depois subam a serra! No beco sem saída do Machado de Assis, sob um frondoso jasmim-manga, um jovem de cabelos nevados os receberá falando de um trabalho qualquer das formigas na tarde anterior. E mudará para sempre suas vidas". Ricardo Lima 

 

 

  

 

Agora, houve uma época de ruptura. Aliás, tem um poema, o "Foi queimar livros velhos e achou na mala um beija-flor", que reflete um pouco essa situação, de dizer "essa literatura não quer dizer porra nenhuma, vou jogar essa porra toda fora, eu só escrevo por vaidade, isso é uma grande bobagem". Tive esse momento, aí por volta dos meus trinta, trinta e poucos anos. Eu queria romper com a literatura em geral. Depois, acordei da crise, e falei, "se jogar a literatura para o alto, o que vai te sobrar?". Muito pouca coisa, porque, na verdade, isso é uma âncora que te liga à terra. Uma coisa que enche teus momentos de prazer, satisfação. E hoje, depois de passar por isso, e sendo um pouco mais maduro, eu digo: é o meu ofício, o meu artesanato, aquilo que estou aprendendo a fazer, que acredito talvez um dia conseguir.

 

Não sou capaz de dizer tudo sobre a minha obra. O leitor vai observar coisas que me escapam. Esse é o momento em que a literatura passa a existir, quando ela significa alguma coisa para alguém de fora, que não o autor. Na verdade, a vivência é muito importante pra mim. Vou te dar um exemplo banal, mas que acho significativo: eu não me tornei um pintor de quadros, mas me tornei de paredes. Eu adquiri um certo know-how, faz muito tempo que pinto essa casa. E faço com dedicação de artista. As pessoas acham que qualquer um pinta uma parede de branco. Pintar uma parede a cal requer uma habilidade. Primeiro, não pode borrar cal em você. Existem tonalidades de branco muito diferentes, existem qualidades, sobreposições, tem a fatura da pintura. A cal é a tinta mais saborosa, tem o preparo da tinta. Então, mesmo que você só pinte de branco, é uma arte. Uma técnica que você tem que dominar. Isso, pra mim, é vivência. É claro que, quando eu termino um dia de pintura — e aqui, acho que estou encontrando o que eu queria dizer — daí, eu vou abrir o meu Goethe, o meu Schiller, vou ler um poeta alemão, cheio de prazer. Eu acho que estas duas coisas são inseparáveis para mim, hoje, o prazer literário, do prazer da vivência, seja pintando a casa, seja plantando uma árvore, seja subindo uma montanha.

 

 

Leonardo Fróes

A Fábula da Cebola

Revista Azougue, n. 8, 2003

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

março, 2006

 

 

 

 

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