©berenice abbott | 1928
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

RESUMO

Este ensaio pretende demonstrar que a obra Ulisses, de James Joyce, ainda está a esperar uma tradução para o português que faça jus ao original. As duas traduções publicadas no Brasil, como se mostrará, possuem equívocos de versão em número suficiente para justificar esta assertiva.

 

Palavras-chave

romance; traduções; publicações.

 

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

         O início do século XX foi marcado pelo aparecimento de uma série de textos que se tornariam clássicos da literatura mundial. Apenas para citar alguns, Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, e O Processo, de Franz Kafka, são exemplos de obras que transformaram a literatura. Entretanto, uma obra diferente surgiu nesta mesma época, não apenas provocando uma verdadeira revolução no meio literário, como viria a redefinir a própria concepção de "romance".

         A concepção deste gênero literário começou a surgir a partir do século XVII, embora a suas origens mais remotas tenham se originado das histórias cavaleirescas, lendas, canções de gesta e novelas que se escreviam nas línguas românicas que estavam a se definir ao longo da Idade Média. Quanto às bases do romance moderno, estas podem ser encontradas nas novelas, cujo tom realista e satírico atingiu o seu auge na obra do italiano Giovanni Boccaccio, Decameron, no século XIV, e nos romances de cavalaria, cujo exemplo maior é Dom Quixote, de 1605, escrita pelo espanhol Miguel de Cervantes. O gênero aumentou sua popularidade, no século XIX, com a publicação de folhetins em jornais. A partir daí, autores como Alexandre Dumas Filho, Charles Dickens, Victor Hugo e Flaubert, entre outros, tornaram-se bastante famosos junto ao um público leitor ávido das novidades literárias.

 

 

         2. UMA REVOLUÇÃO NO ROMANCE

 

         O escritor irlandês James Joyce, ou James Augustine Eloysios Joyce, nasceu no dia 2 de fevereiro de 1882, em Rathgar, subúrbio de Dublin, capital da Irlanda. Suas obras literárias são as seguintes: Chamber Music (Poemas), 1907; Dublinenses (Contos), 1913; O Retrato do Artista Quando Jovem (Romance), 1916; Exiles (Teatro), 1918; Ulisses (Romance), 1922; Pomes Penyeach (Poemas), 1927; Collected Poems (Poemas), 1936; Finnegan's Wake (Romance) 1939; Stephen Hero (Romance) 1944. Joyce morreu em 13 de janeiro de 1941.

A principal obra de James Joyce é o romance Ulisses, uma narrativa contínua que cobre 18 horas de um dia (16 de junho de 19041) na vida do judeu-irlandês Leopold Bloom, na cidade de Dublin. A trama da obra divide-se em três partes, com dezoito episódios de densidade desigual, sendo o enredo calcado sobre a obra Odisséia, de Homero, e suas partes ligam-se às partes desta obra, sendo Bloom o anti-herói, em relação ao herói grego Ulisses. Além de Bloom, são personagens importantes da obra: Stephen Dedalus (que surge inicialmente como personagem na obra anterior de Joyce, Retrato do Artista Quando Jovem), Malachi Mulligan e Marion Bloom, a esposa infiel de Leopold Bloom (em contraposição à esposa fiel de Ulisses). O livro levou sete anos para ser escrito (de 1914 a 1921).

         Traduzida para o francês, teve a sua primeira publicação feita na França pela escritora norte-americana Silvia Beach, em 1922, pela Shakespeare and Company. Esta publicação provocou grande celeuma, tendo sido a obra acusada de amoral e pornográfica. Com isto, foi proibida nos EUA, e apenas em 1934 sua publicação foi autorizada neste país2.

         Revolucionária em sua forma, a obra Ulisses desconcertou leitores3, em razão de sua complexidade lingüística. Joyce, poliglota, profundo conhecedor de línguas mortas e de vários idiomas modernos, como também de história antiga, mitologias, folclore, etc., criou um monumento literário de difícil leitura, devido ao uso de monólogo interior4, como também em razão das muitas citações eruditas e de uma mistura labiríntica de imitações de estilos. Por exemplo, no episódio: O Gado do Sol, de acordo com Eleni Loukopoulou (LOUKOPOULOU, 2005), a técnica mostrada neste episódio em nove partes começa "por um prelúdio ao estilo Tácito-Salustiano … em seguida pelo estilo do aliterativo inglês arcaico e do monossilábico anglo-saxão …. pelo estilo de Mandeville … pelo estilo de Mallory em Morte d’Arthur … em seguida pelo estilo das crônicas elisabetanas … em seguida passagens solenes de Milton, Taylor, Hooker, seguidos por um pouco de agitado latim vulgar, ao estilo de Burton e Browne, seguido por uma passagem ao estilo de Bunyan ... depois um pouco do estilo de diário de Pepys-Evelyn ... atravessando Defoe-Swift e Steele-Addison-Sterne e Landor-Pater-Newman até finalizar com uma assustadora mixórdia de jargão inglês, inglês de negros escravos, o escocês, o irlandês, gíria de guetos e péssimos versos". A esta lista, outros especialistas acrescentam os seguintes autores, cujos estilos são imitados por Joyce: Oliver Goldsmith; Edmund Burke; Richard Sheridan; Edward Gibbon; Horace Walpole; Charles Lamb; Thomas de Quincey; Walter Savage; Thomas Macauley; Thomas Huxley; Charles Dickens; John Henry Cardinal; John Ruskin e Thomas Carlyle. 

         Ulisses é, igualmente, uma obra cuja extrema dificuldade de tradução foi vivenciada por aqueles que se aventuraram a tal empreendimento5. Sob certos aspectos, boa parte dela é intraduzível, em razão da grande quantidade de trocadilhos, jogos de palavras, coloquialismos, gírias e de palavras novas criadas por Joyce6.

 

 

            3. TRADUÇÕES E TRADUTORES

 

        Este ensaio não tem por objetivo analisar a complexidade da escrita ficcional de Joyce, nem adentrar a descrição de seus expressivos recursos narrativos. Pretende, isto sim, expor (até diríamos, desnudar) as traduções nacionais da obra em suas pretensões e presunções quanto à fidelidade ao original.

        Existem, sabidamente, três traduções do Ulisses para o português (Brasil). A tradução mais antiga deve-se ao escritor, filólogo e tradutor Antônio Houaiss (realizada em cerca de um ano), cuja tradução mereceu publicação original pela Editora Civilização Brasileira, em 1966, em uma edição de 960 páginas7 (atualmente,  em   sua 14ª. edição, já agora  com a Editora  Record)8. Outra tradução, mais recente, teria custado sete anos de esforços à tradutora Bernardina da Silveira Pinheiro, 83 anos, professora aposentada de literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro9. Foi publicada pela Editora Objetiva (912 páginas), e encontra-se em sua segunda edição. Uma terceira tradução deve-se a um professor de lingüística da Universidade do Paraná, Caetano Galindo, e continua inédita. Uma tradução ao português de Portugal é creditada a João Palma Ferreira (1989)10.

 

 

         4. A RESPEITO DE TRADUÇÕES

 

            Toda tradução — e isto o sabem os bons tradutores — exige um compromisso entre a fidelidade ao original e a necessidade de adaptar este original à língua que vai recebê-lo. Não é possível verter contextos que se reconhecem no original, mas que o leitor final não sabe reconhecer ou identificar. Pode-se dizer que uma tradução, mais que uma simples substituição de palavras, torna-se uma "transcriação", ou seja, um misto de versão, recriação e de ousadias vocabulares capazes de transcrever as intenções do escritor. Em textos reconhecidamente difíceis como o Ulisses, há necessidade destas transposições e  recriações e de ousadias que reflitam a erudição, a linguagem rebuscada, o coloquialismo, em suma, a suprema riqueza do original. E cabe ainda ao tradutor tentar desmentir o que dizem os italianos: tradutore tradittori (ou seja, ainda que não o queira, todo tradutor trai o texto original).

         As traduções de Houaiss e de Bernardina, analisadas no seu todo, refletem abordagens divergentes e diferentes perspectivas. A segunda procurou tornar (em suas próprias palavras) mais coloquial e acessível o texto joyceano, utilizando um linguajar mais "nativo". Houaiss, por outro lado, buscou re-inventar o texto, mantendo entretanto (ou até aumentando) o hermetismo original.

         Mas o que faremos aqui não é um simples cotejo de resultados gerais. Pretendemos, isto sim, mostrar que muitas palavras de tradução corriqueira e devidamente dicionarizadas sofreram em ambos os textos uma distorção ocasionada pela falta de perspicácia, por desconhecimento ou por puros equívocos com relação ao significado.

         Naturalmente, os leitores que tiverem maior intimidade com a obra terão mais facilidade em reconhecer as passagens descritas. Por fim, é opinião deste ensaísta que a tradução que foi realizada por Houaiss, ainda que seja pedante, muitas vezes disparatada e até mesmo simplesmente errada, é, ainda assim, algo melhor do que esta versão mais recente (principalmente no famoso capítulo O gado do Sol). Além disso, é forçoso dizer, a tradução da prof. Bernardina padece dos mesmos defeitos que se encontram na tradução anterior.

 

 

            5. CONFRONTOS

 

         A tradução de Houaiss, por sua anterioridade, serviu de base para o confronto de traduções. Ou seja, a comparação é entre esta tradução e a da prof. Bernardina, e não o contrário. As passagens comparadas são apenas uma amostra, e não esgotam as passagens mal traduzidas. Mas um cotejo completo exigiria um novo livro, o que foge completamente às intenções deste texto.

         Nos exemplos a seguir, estão mostrados (com indicação das páginas nos respectivos textos):

 

O - o original em inglês;

H - a tradução de Houaiss (de acordo com a 2ª edição revista, da Editora Civilização Brasileira, 1967);

B - a tradução da prof. Bernardina (de acordo com a 1ª edição da Editora Objetiva, 2005);

A - a sugestão de tradução deste autor, com comentários.

 

 

O - Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead.

 

H - Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada. (Pág. 3).

 

B - Magestoso, o gorducho Buck Mulligan apareceu no topo da escada. (Pág. 4, Ed. Objetiva).

 

A - Imponente, Buck Mulligan vinha diretamente do topo da escada.

 

O termo plump (gordo, roliço) também pode ser traduzido por diretamente (directly). Outro argumento contra Mulligan ser gordo: este personagem baseia-se em Oliver Gogarty (amigo de Joyce), do qual as fotos apresentam-no como uma pessoa esbelta.   

 

 

O - His curling shaven lips laughed and the edges of his white glittering teeth.

 

H - Seus curvos lábios escanhoados riam e as pontas de seus brancos dentes resplandecentes. (Pág. 6).

 

B - Seus lábios crispados e barbeados riram assim como as pontas dos seus dentes brancos cintilantes. (Pág. 8).

 

A - Seus escanhoados lábios rosnantes riam e as pontas de seus brancos dentes resplandeciam.

 

Uma das acepções do termo curling é: to raise and turn under the upper lip as in snarling. Ou seja: elevar e distender o lábio superior, como quando ao rosnar. 

 

 

O - Agenbite of inwit.

 

H - Remordida do imo-senso. (Pág. 17).

 

B - Remorso de consciência. (Pág. 18).

 

A – Sentimento de pungência.

 

Esta é, provavelmente, a expressão mais difícil de traduzir, de todo o texto. Houaiss também a traduz como: tortura do senso (razão-juízo) íntimo; remorso de consciência. Na tradução de Augusto de Campos: remorsura do ensimesmo. O termo agenbite sugere dor mordente, cortante. A expressão inwit não possui equivalente em português: wit significa razão, juízo, o que levaria à tradução de Houaiss. McLuhan (vide bibliografia) diz que a expressão agenbite of outwit significa: um amor narcisista a uma exteriorização de si mesmo (Narcissus fell in love with an outering of himself). Assim, de um certo modo, a expressão agenbite of inwit teria o seguinte significado: um olhar interior para uma dor em si mesmo percebida. Uma dor moral pungente e cortante.

 

 

O - Mercury's hat.

 

H - Pétaso de Mercúrio.

 

B - O chapéu de Mercúrio.

 

A - Ainda que um preciosismo, a tradução de Houaiss está mais de acordo com o contexto histórico, porque o termo pétaso (ainda que inusitado) designa um tipo de chapéu ou gorro de copa baixa e abas largas, que era usado pelos antigos gregos e romanos (e, naturalmente, pelo seu deus Mercúrio) .

 

 

 

O - His mother's prostrate body the fiery Columbanus in holy zeal bestrode.

 

H - O corpo prostrado de sua mãe dele o fogoso Columbano montara em tesão sagrada. (Pág. 32).

 

B - O corpo prostrado de sua mãe o ardente Columbano em seu zelo sagrado passou por cima. (Pág. 31).

 

A - O corpo prostrado de sua mãe o fogoso Columbano em sagrado zelo protegia.

 

São Columbano foi um monge missionário saído da Irlanda para evangelizar a Europa ocidental. Viveu de 543 a 615. A palavra bestride possui vários sentidos: montar; abarcar; proteger; ultrapassar a passo largo. Esta última acepção estaria de acordo com um conhecido episódio da vida deste santo: desejando ele ir para a Europa em missão evangelizadora, sua mãe se opôs, prostrando-se ante ele. Contrariado, Columbano passou-lhe por cima ao ir-se (tradução de Bernardina). Mas cabe também outra interpretação. Por ser ele um santo, a referência do texto talvez faça alusão à existência de um quadro (com sua imagem) acima da cama da mulher agonizante (“sua mãe”, no caso, não seria a mãe de Columbano, e sim a mãe do personagem Stephen Dedalus). A versão de Houaiss é destituída de sentido.

 

 

O - On the spindle side.

 

H - Do lado da roca. (Pág. 35).

 

B - Do lado materno.  (Pág. 36).

 

A - On the spindle side: esta é uma expressão idiomática que significa: pelo lado materno (a palavra inglesa spindle significa fuso ou roca). Assim, a expressão do lado da roca teria o significado de do lado da fiandeira, aquela que passava o tempo a fiar, a mãe.

 

 

O - Fiacre and Scotus on their creepystools in heaven spilt from their pintpots, loudlatinlaughing: Euge! Euge!

 

H - Fiacre e Scotus entornados nos céus de seus canecos quartilhos, garlatingalhando: Euge! Euge! (Pág. 46).

 

B - Fiacre e Scotus empoleirados no céu em seus tamboretes cospem sua cerveja ao rirem alto em latim: Euge! Euge! (Pág. 50).

 

A - Trecho extremamente capcioso, pois admite vários sentidos: Fiacre e Scotus em seus /suas [escabelos] / [almofadas baixas] / [fezes nojentas] derramados de seus canecos, altolatimrindo: Bem vindo! Bem vindo! (Ou também: Aplauso! Aplauso!).

 

 

O - ...dull brick muffler.

 

H - ...lenço tijolo brique baço. (Pág. 52).

 

B - ...cachecol cor de tijolo escuro. (Pág. 55).

 

A - ...cachecol cor-de-tijolo baço.

 

A tradução de Houaiss é um verdadeiro non-sense.

 

 

O - …wind of wild air of seeds of brightness.

 

H - ...vento do ar bravio de sêmen de revérbero. (Pág. 50).

 

B - ...vento do ar turbulento das sementes de claridade. (Pág. 52).

 

A - ...vento selvagem que trazia brilhantes gotas de chuva.

 

O sentido é o de que havia uma chuva fina, com pequenas gotas brilhantes A referência a sementes de luz é mitológica, e remete à chuva dourada com que Zeus engravida a jovem Danae, filha de Eurídice e do rei de Argos, Acrísio.

 

 

O - …torcs of tomahawks aglitter on their breasts.

 

H - ...enfiada dos cutelos das franciscas cintilando-lhes ao peito. (Pág. 51).

 

B - ...com colares de metal como os dos tomahawks cintilantes no peito. (Pág. 53).

 

A - ...colares com pontas de machados de guerra brilhantes em seus peitos.

 

O termo torc designa  um tipo de colar celta, rígido e de forma circular, em cujas pontas abertas viradas para baixo se mostram pequenas figuras variadas. A versão de Houaiss é destituída de sentido.

 

 

O - Buss her, wap in rogues rum lingo, for, O, my dimber wapping dell!

 

H - Beijoca-a, fode com sabida lenga de esbórnia, oh minha bela putinha fodedora. (Pág. 53).

 

B - Beijem-na, façam amor com ela, digam-lhe coisas bonitas, pois, Ó, ela é minha bonita e encantadora garota! (Pág. 55).

 

A - Beije-a, fode-a, xingue-a nesta língua estranha de velhaco, oh minha bela putinha fodedora.

 

A tradução de Houaiss segue o original, que apresenta várias palavras de baixo calão: dell significa: prostituta ou meretriz de grandes seios; wap significa: copular; foder (vulgar); dimber significa: simpática, bela,  encantadora.

 

 

O - ...evening lands.

 

H - ...terras vesperais. (Pág. 53).

 

B - ...terras da noite. (Pág. 56).

 

A - ...terras novas, da  véspera.

 

Da Irlanda, para o Oeste, migra-se para a América, de colonização mais recente do que a Irlanda. No início do século XX, havia forte migração neste sentido. A tradução terras da noite dá uma conotação de terras mais antigas, e por esta razão, fica fora de contexto.

 

 

O - …fourworded wavespeech: seesoo, hrss, rsseeiss, ooos.

 

H - …quadrívoca undifala: siissuu, hriss, rsiess, uuss. (Pág. 55).

 

B - ...quatropalavras da onda: siisu, hrss, rsseeiss, uuus. (Pág. 58).

 

A - ...quadrisons falavibrantes (...).

 

Um exemplo de palavras-valise de Joyce, em que ele pretende transmitir os sons do remoinho das águas. Pode-se ter a tradução anterior (segundo o sentido desejado) ou então: quadripalavrada ondafala (literalmente). As onomatopéias que se seguem, naturalmente, deveriam seguir os sons aproximados em português, e não uma adaptação da pronúncia11.

 

 

O - A corpse rising saltwhite from the undertow.

 

H - Um cadáver salbranqueado emergindo da baixa-toa. (Pág. 56).

 

B - Um cadáver branco de sal se erguendo na ressaca. (Pág. 58).

 

A - Um cadáver salbranqueado emergindo de sob os cânhamos.

 

 

O - Sunk though he be beneath the watery floor.

 

H - Mesmo que imerso das águas sob os cendais. (Pág. 56).

 

B - Por mais afundado que ele esteja sob o solo da água. (Pág. 58).

 

A - Apesar de ainda afundado, abaixo da superfície da água.

 

 

O - ...the overtone following through the air, third.

 

H - ...o harmônico seguido pelo ar, terço. (Pág. 79).

 

B - ...o som concomitante prosseguindo através do espaço. Um terceiro. (Pág. 80).

 

A - ...o harmônico atravessando o ar, em terça.

 

O termo harmônico indica uma freqüência múltipla de uma freqüência fundamental; terça significa: intervalo musical, de uma nota para uma terceira acima.

 

 

O - A photo it isn't. A badge maybe.

 

H - Uma foto não é. Talvez uma senha. (Pág. 82).

 

B - Uma foto não é. Um emblema talvez. (Pág. 85).

 

A - Uma foto não é. Um distintivo talvez.

 

O personagem tenta identificar o que há dentro de um envelope, apalpando-o, e sente que há algo com ponta aguda. Assim, é "algo alfinetado", conforme dito antes no texto, o que indica um distintivo.

 

 

O - ...drooping nags.

 

H - ...matungos esfalfados. (Pág. 85)

 

B - ...pôneis curvados. (Pág. 88).

 

A - ...pangarés esfalfados.

 

No contexto, o personagem passa junto aos cavalos das carruagens populares usadas como táxi. O termo nags tem o sentido de cavalos velhos e inúteis; e drooping, de exaustos, cabisbaixos. O termo pônei designa cavalos de baixa estatura, que evidentemente jamais seriam usados com a finalidade de puxar carros.

 

 

O - I called you naughty boy because I do not like that other world. Please tell me what is the real meaning of that word?

 

H - Lhe chamei de garoto travesso porque não gosto desse outro nume. Por favor diga-me qual é o verdadeiro sentido desse nome. (Pág. 87).

 

B - Eu o chamei de menino levado porque não gosto daquele outro planeta. Por favor me diga qual é o sentido verdadeiro daquela palavra? (Pág. 89). 

 

A - No contexto, trata-se de uma carta, na qual a missivista troca a palavra word (que significa termo ou palavra) por world (mundo). Houaiss traduz por nume e nome, respectivamente. A tradução da prof. Bernardina torna confuso o texto.

 

 

O - Has her roses probably.

 

H - Está de paquete provavelmente.

 

B - Tem suas rosas provavelmente.

 

A - A tradução de Houaiss segue o contexto. Indica que a jovem está menstruada. O nome paquete (navio de transporte a vapor) confundiu-se com o mênstruo, pela regularidade com que um paquete da marinha vinha até o porto do Rio de Janeiro (de 28 em 28 dias), no início do século XX. O original é uma alusão eufemística utilizada na época, por pudicícia.

 

O - Huggermugger in corners.

 

H - Pisque-dizque pelas esquinas. (Pág. 98).

 

B - Secretamente nos cantos. (Pág. 103).

 

A - No contexto, a expressão designa o fato de as pessoas, principalmente mulheres idosas, ficarem espreitando atrás das cortinas de suas casas o que acontece nas ruas. O termo huggermugger tem várias acepções, entre as quais, agir ou manter em segredo.

 

O - Slop about in slipperslappers for fear he'd wake.

 

H - Pisar perto em pontinhas de pé de medo que se desperte. (Pág. 98).

 

B - Patinham nos chineloshlepe com medo que ele acorde. (Pág. 103).

 

A - Se arrastando devagar em chinelos chiantes de medo que ele  acordasse.

 

O termo slops designa: um andar lento, arrastado. O termo slipper significa chinelos. Quanto ao termo slapper designa: o som de um sopro.

 

 

O - …pointsman

 

H - ...postilhão (Pág. 103).

 

B - ... agulheiro (Pág. 107).

 

A - ...guarda-chaves.

 

Empregado da companhia de bondes que fazia a conexão de linhas, abrindo ou fechando as chaves de desvio e de ramais. A tradução postilhão, de Houaiss (incorreta), significa: mensageiro, ou empregado dos correios que levava correspondência a cavalo. Agulheiro (uma tradução correta) significa: empregado que fazia o serviço das agulhas. As agulhas eram os carris de ferro móveis que facilitavam a passagem de uma para a outra via férrea de bondes.

 

 

O - Too much John Barleycorn.

 

H - Excesso de João Bebessobe. (Pág. 107).

 

B - John Barleycorn demais. (Pág. 111).

 

A - John Barleycorn é o nome de uma obra literária publicada em 1913 (John Barleycorn: 'Alcoholic Memoirs’) pelo escritor Jack London (1876-1916). A referência é ao excesso de bebida, cujo paradigma é o personagem citado. 

 

 

O - Wonder if that dodge works now getting dicky meat off the train at Clonsilla

 

H - Pergunto-me se aquela marmelada ainda vigora de conseguir carne xepa do trem em Clonsilla. (Pág. 111).

 

B - Me pergunto se esta artimanha de retirar carne de qualidade inferior no trem de Consilla funciona hoje em dia. (Pág. 113).

 

A - Pergunto-me se aquele golpe ainda funciona, o de vender carne duvidosa no trem em Clonsilla.

 

O termo get off  tem, entre outras, as acepções: tirar; retirar; colocar ou vender mercadorias. Um golpe (dodge: logro; trapaça; ardil; golpe) perpetrado para retirar algo, esta coisa deveria ser de boa qualidade. Portanto, o golpe seria o contrário: vender algo duvidoso.

 

 

O - Murderer's ground.

 

H - Sede do assassino. (Pág. 113).

 

B - Terreno de assassino. (Pág 116).

 

A - Propriedade do assassino.

 

No contexto, o personagem, de passagem por uma rua, olha para uma casa, famosa pelo assassinato lá cometido.

 

 

O - Father Coffey. I knew his name was like a coffin.

 

H - Padre Paixão. Eu sabia que seu nome era como caixão. (Pág. 116).

 

B - Padre Coffey. Eu sabia que  o nome dele era como um esquife.

 

A - A tradução de Houaiss mantém a rima ou aliteração original.      

 

 

O - I hear feetstoops

 

H - Ouço dassapas. (Pág. 145).

 

B - Ouço passos. (Pág. 146).

 

A - Ouço passos medrosos. Ou: Ouço humildes pés (literalmente).

 

No contexto, o surgimento de um garoto amedrontado, devido a um mal-feito. Houaiss utiliza uma inversão: passadas — pas sa das — dassapas. Pode-se traduzir também por: Ouço pés medrosos (porque o garoto estava amedrontado).

 

 

O - His slim hand with a wave graced echo and fall.

 

H - Sua esguia mão embelecia numa onda eco e queda. (Pág. 159).

 

B - Sua mão delgada com um gesto ondulante dignificou o eco e a queda. (Pág. 158).

 

A - Sua mão delgada com uma ondulação ornava eco e cadência.

 

O termo fall também se traduz por cadência. No contexto, um personagem acompanha uma música com a mão. Além disso, tal tradução justifica-se pelo que o personagem Stephen diz no próximo quarto parágrafo, "graça da linguagem e dos gestos" (grace of language and gesture).

 

­­­

O - ...airslits.

 

H - ...respiráculo. (Pág. 164).

 

B - ...aberturas de ar. (Pág. 163).

 

A - ...respiradouros.

 

No contexto, os personagens sobem a escada em espiral no interior da Coluna de Nelson, que se situa em uma praça da cidade de Londres. Os respiradouros são fendas verticais abertas nas paredes de castelos, torres e torreões. Ao longo da coluna citada, encontram-se os respiradouros. Respiráculo é o orifício de respiração no dorso das baleias.

 

 

O - U. p: up.

 

H - EE Gh: és gagá. (Pág. 179). 

 

B - P. c.: para cima. (Pág. 178).

 

A - M jão!

 

É uma expressão de sarcasmo contra um personagem conhecido por sua pusilanimidade. U. p.: up na leitura fonética quer dizer: You pee up, cuja tradução literal seria:  Seu mijão!

 

 

O - Primrosevested he greeted gaily with his doffed Panama as with a bauble.

 

H - Primulencoletado, ele saudava alegremente com seu panamá agitado como se com um bobelo. (Pág. 225).

 

B - Vestido-de-amarelo-pálido ele saudou alegremente com seu panamá retirado como se fosse brinquedo. (Pág. 222).

 

A - Vestiflorido, ele cumprimentava com o seu chapéu Panamá, levando-o como um bobo da corte levaria o seu cetro ridículo.

 

O termo bauble tem um significado arcaico de: um cetro ridículo levado por um bobo da corte (a mock scepter carried by a court jester).

 

 

O - …behind the diamond panes.

 

H - ...atrás das vidraças adamantinas. (Pág. 230).

 

B - ...por trás das vidraças de diamantes. (Pág. 226).

 

A - ...por trás de vidraças em forma de losango.

 

A expressão diamond panes significa: vidraças em forma de losango (que podem ser vistas no frontispício de antigas casas coloniais).

 

 

O - ...the unco guid.

 

H - ...o incorrup gui. (Pág. 236).

 

B - ...os rigidamente probos. (Pág. 231).

 

A – ...estranha flor.

 

A expressão the unco guid pode ser a abreviação de the uncorruptible guide (o guia incorruptível). Mas unco guid também pode ser assim traduzida: estranha flor.

 

 

O - The quaker librarian, quaking, tiptoed in, quake, his mask, quake, with haste, quake, quack.

 

H - O bibliotecário quacre, chaqualhando, puntipé, chocalho, sua máscara chocalha, festino, chocalha, grasnalha. (Pág. 238).

 

B - O livreiro quaker tremendo, entrou na ponta dos pés, quakra sua máscara, quakra com pressa, quakra, quak. (Pág. 233).

 

A - O bibliotecário quacre, balançando na ponta dos pés, treme, sua máscara treme, treme e grasna com presteza.

 

 

0 - ...on a bend sable a spear of steeled argent.

 

H - ...uma banda de sable haste ouro ou ponta prata. (Pág. 239).

 

B - ...sobre uma barra diagonal de zibelina uma lança ou prata acerada. (Pág. 234).

 

A - ...em uma faixa de cor negra uma lança com ponta de aço prateado.

 

Uma das acepções do termo sable (na heráldica) é: cor negra dos brasões; quanto ao termo bend, refere-se à faixa que atravessa o escudo de armas.

  

 

 

 

 

 

Notas | Bibliografia | Dicionários e Fontes de Informação Geral Consultados na Internet

 
 
 
 
 
Luiz Gonzaga de Alvarenga. Ex-professor de sociologia, filosofia e metodologia científica na UNIFAN. Membro da Academia Goianiense de Letras.