Ricardo Corona (Pato Branco-PR, 1962). É autor dos livros de poesia Cinemaginário (1999), Corpo sutil (2005) e Tortografia, em parceria com Eliana Borges (2003) — todos pela editora Iluminuras. Em 2001, lançou o CD de poesia Ladrão de fogo (Medusa). Organizou a antologia Outras praias — 13 poetas brasileiros emergentes / Other Shores — 13 Emerging Brazilian Poets (edição bilíngüe – Ed. Iluminuras, 1998). Traduziu, em parceria com Joca Wolff,  o livro-poema Momento de simetria (Curitiba, Ed. Medusa, 2005), de Arturo Carrera. Integra as antologias Pindorama — 20 poetas de Brasil (org. pelos editores da revista tsé-tsé, Buenos Aires, Argentina, 2000), Na virada do século — poesia de invenção no Brasil (org. por Claudio Daniel e Frederico Barbosa, SP, Ed. Landy, 2002), Passagens — antologia de poetas contemporâneos do Paraná (org. Ademir Demarchi, Curitiba, Ed. IOP, 2002), Cities of Chance: New poetry from the United States and Brazil (org. por Flávia Rocha e Edwin Torres, revista Rattapallax, New York, EUA, 2003), acompanhada de CD de poesia, no qual participa com o poema "Ventos e uma alucinação", e Antologia comentada da poesia brasileira no século 21 (org. por Manuel da Costa Pinto, Ed. PubliFolha, 2006). Participou, também, da antologia Os cem menores contos brasileiros do século (org. por Marcelino Freire, SP, Ateliê Editorial, 2004) e da mostra Brasil: poetry today, publicada na revista Slope (EUA, 2004). Tem poemas musicados por Vitor Ramil, Ana Lee, Neuza Pinheiro, entre outros. Em 1998, criou a revista de poesia e arte Medusa, e, em 2004, a revista de poesia e arte Oroboro, editada em parceria com Eliana Borges.
 
Mais Ricardo Corona em Germina:

1.

A lua incha no céu cheio,
ninfa mutante entre estrelas
de um céu-show

Da praia, onde

as ondas lambem a orla

e gozam espumas,

dá pra ouvir o uivo do mar

—replay de édens

2.

Lunar,
a paisagem sem luz, lugar
da imagem-transe,
vortex fanopaico

Reflexos orquestrados em seus

escarcéus

— poesia

na farra na liga

das línguas!

3.

Nós dois drogados de sentidos,
andróides no replay de édens,
roçando guelras no céu da boca,

— música amor maresia —

Nossas pupilas dilatam,

último site na lua cheia

4.

É diazul, soluz

e nada escapa a sua explicação —

com as pernas trêfegas,

tresandadas

pisamos nas poças distraídos

a cada passo

iluminura tremeluzente

......— replay de edens

ANDRÓIDES DROGADOS NO
REPLAY DE ÉDENS
1.

tá viva a letra...

no rastro do enigma
olhe de novo

(minha mãe lia o livro da terra
e tudo que eu faço é por isso)

pegadas juvenis
na floresta úmida

2.

a lua branca intercepta
reflexos

(eu sou o rabo e eles não podem com eu
eu levo o mundo inteiro)

na harpa ouro
do anjo nu

3.

clonado
sobre a lâmina do lago

(jardelina salvou o mundo,
desencantou a lagoa)

sobre
carpas em alvoroço

4.

no alvo do caos
no cu de uma estrela cadente

(ha ha ha ha ha ha
ha ha ha ha ha ha ha)

no primeiro riso
depois do humano

5.

depois do macaco
antes da hiena

(porque o primeiro índio é o pajé
cê sabia disso?)

o primeiro, depois
do nem fim nem começo

6.

na passagem
no avesso da paisagem

(eu entrei dentro dos quinto dos inferno
mas tudo que eu falo é o planeta)

olhe para dentro
olhe para fora

7.

olhe com as costas
do globo ocular

(tudo o que eu falo sai num afirmado
esqueci o estilo da boca)

deixe a velha poesia
para trás

8.

(Minha mãe lia o Livro da Terra:

“Essa cigana, ela usa batom,
ela usa tudo quanto é tintura
e ela nunca larga a moda dela,
e nem acompanha a moda de ninguém,
a moda dela só ela que faz.”

Eu ia saber que era eu?)

ESTILO DA BOCA

Com Jardelina da Silva
Para Sabrina Bandeira Lopes
Título e textos em italic são trechos orais de Jardelina da Silva e foram extraídos de um longo depoimento dado ao artista plástico Rubens Pillegi. (Nota do autor).
Publicado no jornal Suplemento de Minas Gerais (n°?, data?) e no disco de poesia Ladrão de fogo (Curitiba, Editora Medusa, 2001)